Concordo em parte com o que diz o Pedro Arruda: o bodyboard e o surfe partilham o mesmo meio, motivaçao e natureza. Algo que faz da escolha de descer uma onda, num ou noutro veículo, uma opção da mesma qualidade. O impulso original é o mesmo, idependentemente da prancha. Já como desporto as coisas sao bem diferentes e chegaram a uma separação irremediável.
O bodyboard, quando da sua génese nos anos 70 partilhou todos os espaços comuns com o surfe, os mesmos picos, as revistas, os campeonatos, os patrocinios e as marcas. Podemos dizer que partilhava totalmente da mesma cultura. A do waterman por excelência, espaço que já detinha quando era paipoboard. Mas a segregação a que foi sujeito e de forma cada vez mais violenta fez com que se criassem não só anticorpos ao proprio surfe mas emergisse uma cultura unicamente bodyboard. O anátema que as marcas de surfe lançaram ao bodyboard só ajudou.
Os insultos que pedro arruda refere ter sido também alvo não tem geração espontânea, foram escritos, reditos e estimulados acabando por se incrustar na propria surfcultura e o surfe acabar sendo o que é: um desporto falsamente tolerante, falsamente heterógeneo. As revistas tiveram e tem uma responsabilidade tácita na reproduçao de questiúnculas, diferendos, secundarização, sarcasmos, ridicularizaçao, e na rivalidade de ralé que existe entre os dois desportos. Perdi a conta porque sou leitor de revistas de surfe, às alusoes idiotas e sublimações da inferioridade do bodyboard. Existe de facto um certo "surfismo" em maior ou menor grau, um conjunto de preconceitos que afectam o estar como surfista. É praticamente tabu para um praticante de surf experimentar as sensações do bodyboard. Pelo contrário quase todos os bodyboarders que conheço experimentaram ou mesmo guardam em casa uma prancha de surfe para os dias certos. Isto porque é um desporto muito mais aberto, onde o ressentimento face ao surfe nao passa de uma simples reacção a injúria. Cá na terra o climax foi o episódio da icineraçao de um bodyboard na onfire, valha-lhes a frontalidade. É tambem esta a formação dos individuos enquanto surfistas e seu comportamento, nalguns casos autênticos sacanas com uma ideologia. Bem sei que é preciso uma má indole para se ser uma má pessoa outras vezes basta um motivo. Mas lá fora chega a ser pior com praias interditas a booguies e tensões bem piores que os nossos brandos costumes e uma distribuição equitativa de praticantes nao permitem. Não vou falar de testemunhos pessoais porque sao pessoais, mas quase toda a gente já testemunhou estas demonstrações de ignorância ao vivo.
A industria do surfe faz o resto pese o vampirismo constante a que sujeitaram o mercado do bodyboard. Após os anos 90 onde todos os profissionais do bodyboard foram despedidos um a um chegou-se a um ponto ridículo em que estas empresas fingem que o bodyboard não existe. Basta ver os sites oficiais das inúmeras marcas de surfwear, onde entre wakeboard, ski, skate, musicos, snowboard etc é vedado o acesso ao desporto que seria mais lógico figurar a seu lado, já que partilha tudo com ele, inclusive a clientela. Se há mensagem mais clara de "nao vos queremos aqui" ou desprezo ao nível mais profundo não a conheço. A indústria do surfe tem sido uma madrasta que muito tem maltratado o bodyboard. Ainda hoje espezinha como pode independentemente do numero de clientes bodyboarders que tem ou nao que tem. É e já disse isto antes, a única indústria que se dá ao luxo do preconceito. Novamente aos anos 90 lembro-me das reivindicaçoes de team riders em que a pretensão era apenas ser tratado em igualdade. No fundo foi sempre essa e continua a ser a pretensão máxima do bodyboard face ao surfe. Ser igual. já a agenda do surfe e as suas multinacionais é claro e unico, tal como Pedro Arruda referiu, de criar uma camada homógenea de praticantes 6'4''. E assim nos despedimos desse mundo. Felizmente.
Na nofriends, a maior marca de bodyboardwear no mundo, tem surfe na pagina de entrada do seu site. Tom Morey o seu inventor continua a tentar descobrir novas formas de andar nas ondas. Sabe bem fazer bodyboard assim.
PS: Pedro não vale a pena ser como a California. Pelo menos a real. A tua tenho a certeza que seria um bom sítio para surfar.
2 comentários:
Caro Hugo
subscrevo muitos dos teus argumentos...
porem o fundo da minha questão é que sendo tão poucos, surfistas e bodyboarders, valerá mesmo a pena estarmos de costas voltadas uns para os outros?
um abraço e boas ondas
aloha
ondas
claro que não. mais que não seja pegar num surfboard naqueles dias ou partilhar ondas com amigos que fazem surf. Nisso como te disse acho que os bbs estão perfeitamente à vontade.
No entanto parece-me que estás a pisar terreno pantanoso desse lado como acho que o vais descobrir.
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