Sergi Alonso


Existem diferentes formatos nas competições desportivas, cada um com uma epistemologia especifica por tras dele sobre o que é que deveria ser o desporto. No geral as inovações que se foram introduzindo são por pressão dos mais fortes e visam diminuír o aleatório, o factor surpresa e conferir alguma racionalidade a este mundo. Quando o desporto foge do esperado há como que uma crise que se abate sobre o adepto, que procura apontar deficiencias e injustiças ao sistema. Quando aquela equipa marca no unico ataque que faz durante todo o jogo, mesmo que o esperasse durante os 90 minutos pode tornar um jogo ilegítimo aos olhos de quem o vê e inaceitável aos olhos de quem perde. Mas a utopia do duelo justo no fundo é a negação da luta. As grandes vitórias sempre foram as mais improváveis, as dos mais fracos, aquelas em que o embate puro é evitado inteligentemente.
É inequivoco que o formato clássico tipo taça é o mais leal ao espírito desportivo e propenso à emoção, à festa mais pura, e às histórias mais ídilicas. O mundo bodyboard ainda se rege por este principio e por isso podem ocorrer coisas implausíveis como na última etapa do mundial na Venezuela. O puto local Sergi Alonso protagonizou uma epopeia de david, tombando todos os gigantes no seu caminho e terminando com uma vitória que pôs em delirio as quase 3000 pessoas presentes na praia. O mais provável é que o franzino Sergi de apenas 50kg nunca mais ganhe nenhuma etapa mas ele teve o condão de fazer magia naquele momento. Ele tocou um hino ao desporto e ao bodyboard. Como num conto de Dickens naquele momento pareceu que todos os sonhos do mundo tem razão de ser.

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