do voyeurismo

É nas alturas festivas que se faz um teste sério aos nossos preconceitos e tolerâncias. Um pouco por todo o lado, comunidades e pessoas unem-se pelas mais diversas razões e crenças para celebrar muitas coisas mas em especial o sentido de comunidade e o elo espiritual que os une. Porque é sempre uma ligaçao sentimental, afectiva e nao puramente pragmatica.
O surfista saca foi nos ultimos tempos o protagonista infeliz de uma polemica que acendeu os foros de discussão e as tribunas públicas do bodyboard. Em causa estava a colherada que decidiu meter numa comunidade que não lhe diz respeito mas à qual não é indiferente. O seu discurso segue a nomenklatura classica do relacionamento entre os dois desportos, crispido e com um certo ressentimento. Saca toda a gente o sabe, é um dos nomes maiores do desporto vizinho, mas começou por praticar bodyboard. Foi um talento roubado ao nosso desporto. Depois, por pressão dos amigos ou por outra qualquer razão decidiu mudar de campo, e por isso só podemos imaginar o que um talento e força de vontade como ele poderia concretizar no bodyboard. E as coisas seriam totalmente diferentes e em vez de estarmos a discutir o caracter do individuo certamente limitar-nos-iamos a apreciar o desempenho de alguém que nasceu também para estar ligado ao mar e às ondas. Essa seria a conversa realmente interessante. Mas agora ele pertence a outra latitude e nada mais tem a ver com o bodyboard. E foi aí que nos unimos, a homogeneidade das criticas que externas só foi consentânea com a aridez da critica interna, se é que a tem. A verdade é que queremos que todos façam as nossas escolhas, temos o desejo quase primitivo que a nossa comunidade seja a maior, e a percepçao errada de que a importância individual tem a ver com a escolha colectiva. Como se fosse uma chancela de verdade. Mas nao é. O que ele diga ou faça diz respeito e caracteriza outro desporto que não o nosso. fim da conversa.

(na foto o surfista profissional Jamie O brien curte umas num bodyboard)