silly season

Nós somos as actos mas também as ficções disse alguém quando questionado sobre o ser. Esta frase não poderia ser mais verdadeira quanto mais nos debruçamos sobre nós próprios e a realidade. Pessoa dizia "tenho em mim todos os sonhos do mundo" e no entanto, era apenas um homem vulgar para as pessoas que se cruzavam com ele na rua, mas pertencia mais à ficção (todos os personagens que inventou) do que o funcionário de escritório cinzento que foi. Como se mede a vulgaridade ou a grandeza? Pelos actos ou ficções? e como vemos nós a realidade, pelos factos ou pela ilusão? A resposta para ambas as perguntas deve estar provavelmente a meio. Já dizia Mario de Sá Carneiro sou pilar da ponte que me separa de mim e do outro. No fundo, gerimos a nossa vida e a realidade num dialogo entre o sonho e o desencanto. E somos tanto de uma matéria como a outra. *

Muitos de nós tambem sonhamos em mandar aquele backflip ou soltar agua num invertido perfeito mas enquanto isto se reporta (para a maioria) apenas ao mundo da ficçao, tem um impacto tácito na nossa realidade corrente. porque é aquilo que queremos ser, é tambem o que queremos ver, o que precisamos de tocar.

Vem isto a proposito do sintra pro. Muitas pessoas acabaram por criticar aquilo que é um bom campeonato onde os envolvidos dão o seu máximo e no geral um bom divertimento de fim de semana. Quem vem cá de fora não fica desiludido com a beleza do lugar, com a paz daquelas paisagens, e, com a Ericeira ali ao lado um booguie de nível mundial se quiser ou perder cedo. A ruptura que não permite as pessoas apreciarem tudo isto (que são factos) é porque o campeonato subverte a sua escala de valores. O ranking final, as ondas as fotos, no fundo o resultado final de tudo aquilo é igual à nossa espuma dos dias. Nada tem do sonho, ou pelo menos a noção utópica que temos. A frustração que temos da realidade apenas nos faz balançar mais para um lado ou outro.

O problema é que o mito fundador da ligação ao bodyboard passa a ser um ideal, comprado em filme e revistas. Corta-se a ligação ao que nos realmente une ao booguie, os fins de tarde com os amigos. O entrar na água e a comunhão com a onda. Talvez por isso algumas pessoas deixem o bodyboard. Quem se interessa se um campeonato de longboard tem boas ou más ondas. Já agora, quem se interessa que hajam campeonatos de longboard? A sua relação é únicamente a de andar.

No entanto o desnorte não lhes permite ver que nem é contra o campeonato ou local que estao contra mas em oposiçao ao modelo. De que lhes serviria estar num reef pesado e no heat do seu heroi em 20 minutos não virem ondas, ou espalhar-se nas 4 ondas que um heat permite. O que eles querem, é que lhes seja dada a oportunidade de testemunharem a vida como num filme. Nem que fosse preciso um dia inteiro ou esperar um mês pelo dia certo. Por aquela oportunidade fugaz (e quantos segundos demora uma manobra) em que a vida corresponderia a ficçao.

* ena, três citações num parágrafo

2 comentários:

Pedro disse...

a maior parte daqueles que criticam, nem capacidade pra organizar uma surftrip de 2 dias têm quanto mais pra organizar um campeonato...mas como o q tá a dar é criticar e falar mal do outro, manda-se bocas e palpites sobre como havia de ser e como deveria ter sido.... Para verem bem, não adiantava nada por exemplo a prova de BB de Viana do Castelo ter, nem que fosse, 3 semanas de espera até ao dia 07/09!!! TEVE SEMPRE FLATADA!!!!...eu tambem queria ver provas com altissimas ondas, com as melhores manobras e tudo isso...mas tambem queria ondas perfeitas todo o ano e surfar como a malta dos filmes....mas há q ser realista!!! Cenários ídilicos SÓ NOS FILMES!!!! (ou com muita sorte ehehe)

Pedro disse...
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