Muito se tem dito acerca da relação do Português com o mar, a sua intimidade com o oceano e vertente marítima do pais, literalmente debruçado sobre o atlântico. No entanto existem certas ambiguidades que não se coadunam propriamente com esta imagem definida do Português quase marinheiro. Uma delas e talvez a mais significativa foram as estratégias de povoamento ao longo dos tempos. Com excepção da meia duzia dos grandes centros portuários, sempre ladeados pelos grandes rios (as verdadeiras auto-estradas da história) até ao sec XX o litoral português foi praticamente desabitado. A terra era mãe, o mar padrasto. A relação foi sempre curiosa, em especial acima do cabo carvoeiro, onde não existem braços de terra que protejam, que façam o oceano se pareça mais com um lago interior. O movimento e imprevisibilidade do atlântico, aliados ao nosso clima austero, frio e húmido á beira mar, fizeram com que o português sempre vivesse (o seu dia a dia mundano) de costas para o mar. Ainda hoje pontuam mais as vivendas em cima das dunas do que corredores de caminhada, ou estruturas para os banhistas (e bodyboarders). Oficialmente não existe desporto no mar. Cacifos, balnearios, sitios para vestir, etc, são uma miragem em Portugal. O oceano sempre foi de uma beleza fascinante, mas tal como ontem, ainda hoje a maioria das pessoas olha a costa como um local de contemplação, não de fruicção.

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