tempos que correm

Há uma corrente muito em voga nos dias de hoje que relaciona directamente a essência de um desporto com o embrulho em que ele anda metido. Esta ontologia marketing-empresarial tão característica dos nossos tempos socorre-se de uma linguagem muito própria. Há vencedores e vencidos, guerras de exposição, maximização de potencialidades, apresentação de conteúdos... O consumidor esse é uma espécie de amiba de sofá prostituído que vai atrás daquele que lhe oferece mais, seja isso o "design", a "qualidade de informação" e acima de tudo a "quantidade de informação. E ai do desporto que não conseguir acompanhar este corropio de webcasts, weblogs, fotos e entrevistas em "tempo real". O desporto perfeito(vendávél?) seria portanto aquele que conseguiria dar ao consumidor ele próprio uma satisfação estável e duradoura alicerçada em doses maciças de alienação. O bodyboard, já sabemos em que categoria se insere neste esquema de valores, o que explica bem alguma angústia no ar. No entanto ao pensar nos tempos em que começei a praticar este desporto, em que nem sequer haviam manobras, revistas, nem sequer vídeos ou internet, interrogo-me como conseguíamos nós ter tanta certeza e satisfação no que fazíamos. Ainda mais desconcertante é julgar que tinhamos mais.

3 comentários:

Anónimo disse...

bons velhos tempos!
surfar era relaxante!

Mr Charles disse...

Bem dito. Mas eu sou do pré-surfshops ... LOL

Cocas

Anónimo disse...

A essência do desporto não tem, de facto, nada com o embrulho em que anda metido. Mas tem muito a ver com a sua saúde e, até, sobrevivência.

Deslizar nas ondas tem o seu quê de poético e espiritual, pois é. Basta pensar na carga ancestral que nos liga ao próprio palco em que os desportos de ondas são praticados, afinal, se Darwin tem razão, viemos todos da água (e continuamos a nascer depois de 9 meses de imersão nela).

Agora, uma coisa é surfar sozinho, com os amigos, como quiseres. Outra é uma modalidade desportiva estruturada e moderna e a indústria que dela se serve e que atraves dela sobrevive.

Sem comunicação, sem imagem, não há sobrevivência. Olha para o hóquei em patins que, em Portugal, paga, literalmente, para aparecer na TV. E que está em decadência porque no ecrã pequeno a bola não se vê.

O BB não tem nada a ver? Pois, há quem ainda jogue pelota basca e petanca e não aparecem em lado nenhum, não têm webcasts, nada. Mas por quanto tempo ate à extinção?

Não defendo esta lógica, mas ela é filha do mundo em que vivemos e que, diabo, até prefiro ver uma final em Pipe do que um jogo do Benfica.